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A toxoplasmose é uma zoonose infeciosa bastante comum em todo o mundo, que adquire especial relevância quando é transmitida durante a gravidez, sendo por isso importante desmistificar a falsa incompatibilidade entre a mulher grávida e a posse de um gato, como animal de estimação.

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 Texto Anabela Torres, médica veterinária

 

Nos humanos, a toxoplasmose é uma das infeções perinatais mais graves, principalmente quando é transmitida durante a gestação (a denominada toxoplasmose congénita), uma vez que poderá conduzir à morte fetal e aborto espontâneo. 

O Toxoplasma Gondii, o seu agente causador, possui dois tipos de hospedeiros: o definitivo e o intermediário. O gato é o hospedeiro definitivo. Os mamíferos, incluindo o homem, os herbívoros e as aves são os hospedeiros intermediários. O hospedeiro definitivo (gato), quando infetado, liberta o parasita no seu trato digestivo, que aí se multiplica e produz oócistos (ovos) que serão geralmente eliminados, após 14 dias, pelas fezes, processo esse que ocorre unicamente durante uma semana em toda a sua vida. Para que estes oócitos assumam uma forma ativa capaz de infetar gatos, humanos e outros hospedeiros intermediários, precisam de esporular no meio ambiente, processo que demora entre um a cinco dias.

 

Como se transmite

A toxoplasmose humana é transmitida pela ingestão de ovos do parasita, que podem estar presentes em vegetais e legumes crus mal lavados, na carne crua ou mal cozinhada (vaca, cordeiro ou porco) e ainda em fezes de gatos infetados que contaminam o solo ou a água. Se está grávida ou planeia engravidar, essa será a altura ideal para fazer o seu rastreio, através de uma colheita de sangue que pesquisa anticorpos específicos (IgG e IgM), com o objetivo de confirmar se é ou não imune à toxoplasmose.

Como prevenir

Caso não esteja imune, deve implementar algumas medidas de forma a prevenir situações que coloquem em risco a sua saúde assim como a do feto:

  • Congelar a carne, ao invés de apenas a refrigerar, de forma a destruir os oócitos; Cozinhar a carne a uma temperatura de pelo menos 60ºC,  de modo a matar os oócitos;
  • Lavar bem todos os alimentos crus, como vegetais, legumes e frutas;
  • Limpar as superfícies e utensílios usados na confeção das refeições com detergente e água quente, antes e depois da sua utilização;
  • Evitar o consumo de produtos lácteos não pasteurizados;
  • Beber apenas água potável.

 

E se vive com o gato?

Se coabitar com um gato, para além das medidas anteriormente mencionadas, deve:

  • Não permitir que o seu gato tenha acesso à rua;
  • Excluir a carne crua/mal cozinhada da dieta do seu gato;
  • Evitar limpar o caixote de areia, mas se tiver que o fazer, utilizar luvas de borracha e de seguida lavar bem as mãos;
  • Limpar diariamente as fezes do caixote de areia, pois  os oócitos só adquirem capacidade infetante 1 a 5 dias após terem sido eliminados pelas fezes;
  • Higienizar com maior periodicidade o caixote de areia utilizando detergente e água quente, de modo a eliminar os oócitos;
  • Colocar as fezes do seu gato em sacos, e não utilizar a via sanitária, sob o risco de contaminar as águas;
  • Usar luvas de borracha nas tarefas de jardinagem ou em qualquer outro trabalho que envolva o contacto direto com o solo, devido à possibilidade de estarem presentes formas infetantes do parasita, que podem resistir por longos períodos de tempo no local onde os gatos defecam.

 

Os riscos de uma mulher grávida contrair toxoplasmose através de um gato são extremamente baixos. Se adotar medidas de higiene, como as acima citadas, poderá usufruir da companhia do seu gato, sem qualquer risco adicional. 

 

Revista Pais, 4 Patas