Margarida Cardoso, enfermeira veterinária
Os cães são animais naturalmente sociais, mas nem todos são sociáveis. Independentemente da raça ou do ambiente de onde veio, o temperamento do cão é o resultado do seu nível de socialização durante a infância. Cães que não tiveram boas experiências (ou nenhuma) com pessoas e outros animais enquanto cachorros, o risco de vir a ter problemas comportamentais a longo prazo é bastante elevado.
Os cachorros têm uma janela de tempo muito pequena onde a socialização é crucial, por isso é importante que até às 16 semanas de idade sejam apresentados a uma grande variedade de situações. O contacto com pessoas e cães é apenas uma parte da socialização. Esta envolve outros estímulos como: visitas ao veterinário, objetos, sons, ensinar o cachorro a gostar de ser abraçado ou mexido por crianças, a gostar que toquem em sítios como pescoço, focinho, orelhas, patas, cauda, etc.
O período ideal para socializar o cachorro coincide com a altura em que o plano de vacinação ainda não esta concluído, por isso todos os contactos deverão ser feitos em ambientes seguros. Pode sair de casa em segurança: no colo, de carro, na transportadora mas não deve contactar com o chão na rua e com cães desconhecidos ou não vacinados. Para associar os estímulos a algo positivo, deve levar biscoitos ou a ração e oferecer quando alguma coisa diferente surge, como outros animais, motas, autocarros, pessoas de capacete, pessoas a segurar caixas, etc. A ideia de uma boa socialização é a de criar associações positivas com cada situação em que é colocado. Mostrar que a consequência de cada evento é muito boa. Isso significa que não devemos forçar situações de medo e desconforto. Há cachorros mais receosos que podem demorar mais tempo a habituar-se aos novos estímulos. Se o cachorro é inseguro e se insiste em coloca-lo em situações em que essa insegurança aparece, não respeitando o seu tempo, a tendência é que ele fique cada vez mais inseguro. Deve-se respeitar o tempo do cachorro, dando-lhe a possibilidade de fazer escolhas (por exemplo, de se aproximar ou afastar de algo/alguém).
Ao contrário do que muitos pensam, uma boa socialização não tem a ver com o número de experiências que o cachorro tem, mas sim com a qualidade delas. Por exemplo, é melhor o contacto com dois cães de forma positiva e controlada do que com vinte cães e feito de forma descontrolada.